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Localização: Luanda, Angola

Apenas conhecemos o que sabemos comunicar, expressar!

29.6.07

A minha “Global Communication”

Não direi com S. Paulo « combati um bom combate, terminei a minha carreira...», mas, é verdade que mais um desafio da minha vida foi ultrapassado, mais um canudo começa a fazer parte do meu curriculum vitae: acabo de ser licenciado em Comunicação Social Institucional aqui em Roma. As malas já estão feitas para o regresso. E como era de esperar, aqui e acolá, entre amigos, amigas e colegas, chuva de perguntas: « exactamente em que coisa estás formado? Quando partes? A onde vais? O que farás? Estás contente?» E outras semelhantes questões tornaram-se rotineiras ultimamente.

E eu cá vou recitando a mesmíssima ladainha: estou formado em Comunicação Social Institucional. «Mas, o que é “Comunicação Social Institucional”?», insistem outros. Quando digo que formei-me em Comunicação Social Institucional significa que amarrei a gramática e linguagem da corporate communication, no linguajar dalguns profissionais de Relações Públicas; trata-se da Global Communication, ou seja, de um tipo de comunicação integrada e orgânica feita por uma empresa ou instituição pública/privada com a finalidade não somente de marketing, relações públicas ou de mera publicidade, mas, sim visando melhorar a percepção da identidade e do valor da instituição mesma e dos seus respectivos serviços ou produtos, personalidades ou representantes oficiais junto dos seus mais diversos públicos. «Ó kota, só estás a piorar», quexou-se ontem ao telefone um amigo meu, «não compreendo nada dos estudos que acabas de fazer!» Ora senti-me forçado a trocar em kwanzas o que anteriormente lhe tinha dito: noutras palavras, continuei, eu acabo de estudar a gramática, a linguagem e as técnicas de jornalismo, isto é, rádio, jornal, televisão, internet, cinema, gestão interna e externa da informação de uma empresa, instituição, organização não-governamental, associação, etc. « Então o senhor padre vai trabalhar na Radio Ecclesia, né?», disse-me uma freira angolana aqui há seis anos, amarrando psicologia e medicina. « Continuo a não me explicar devidamente», confessei aos botões da minha camisa.

Ninguém me disse que deverei trabalhar na Radio Ecclesia. O que farei depois desses estudos, nem eu mesmo sei, talvez o saiba o meu chefe máximo. «Entretanto, se pretendias saber o tipo de profissão correspondente ao meu canudo actual _ disse eu a madre, _ é o de “adido de imprensa”, digamos». «Adido de imprensa?», perguntou como que eu tivesse dito uma blasfémea. Os profissionais que gerem a comunicação interna e externa das instituições, fazendo de ponte entre os jornalistas e a empresa são geralmente conhecidos por adidos de imprensa, disse em termos miúdos à minha interlocutora.

Etimologicamente, o discurso pode ser interminável e transformar-se numa auténtica confusão. Em termos simples e pragmáticos, a minha “global communication” não passou do “curso trienal de Relações Públicas”, com muita técnica e roupagem mediática e managerial.

De facto, no mundo das empresas, associações civis, políticas e religiosas, instituições públicas e privadas hoje fala-se cada vez mais de Global Communication enquanto comunicação integrada e organizada de uma instituição ou empresa. Em Angola fazem semelhante trabalho os “secretários gerais” de organizações ou instituições. A novidade desafiante da Comunicação Social Institucional consiste em procurar comunicar efectivamente todos os elementos, personalidades, eventos e acções significativas da empresa ou instituição, sem excessiva preocupação com a obtenção de resultados imediatos (como acontece com os mecanismos de marketing ou publicidade). Actualmente, há no mundo mais de 3 milhões desse tipo de comunicadores, e anualmente investem-se cerca de 400 bilhões de euros na Global Communication em todo o mundo, particularmente nos paises industrializados e com democracia dinâmica.

Ora, também a Igreja deve investir tantos recursos materiais e humanos na sua comunicação? Não direi tanto como as outras instituições civis ou políticas, até porque não dispõe de tais meios, mas, enquanto instituição humana e missionária, eu penso que a Igreja Católica se deve preocupar muito com a sua maneira de se comunicar hoje na praça pública, onde os media desempenham uma função própria e insubstituível. Com efeito, a Igreja faz Opinião Pública quando cumpre e realiza a sua missão, e quando evita que a sua identidade e missão sejam transcuradas ou deformadas pelos media. Por isso, como incentivava o saudoso Papa João Paulo II, temos de procurar integrar a própria mensagem cristã no actual contexto cultural fortemente influenciado pelos media, começando por compreender a sua linguagem, técnica e sua lógica; doutro modo, penso eu, a fé cristã será cada vez algo privada e de uma minoria insignificante. Penso que hoje não basta procurar ter a visibilidade institucional, é preciso que se crie um «espaço de atenção» capaz de favorecer uma cultura de diálogo e de serviço com e através dos media, para o bem da dignidade das pessoas. Nisso, penso que a Comunicação Social Institucional pode enriquecer o já alto grau de responsabilidade social da Igreja Católica e proporcionar outras mais valias para a própria Igreja em relação ao aumento de credibilidade e confiança junto dos próprios fiéis, doutras instituições e na Opinião Pública.

Em fim, não me é possível responder pormenorizadamente todas as questões que me têm sido endereçadas ultimamente. Aproveito esta ocasião para agradecer do meu profundo coração a todos quantos tenham contribuido para o meu sucesso académico. De facto, contraí muitas dívidas de gratidão durante estes três anos de formação. A minha missão aqui em Roma não teria este fim feliz, sem ajuda financeira, económica, moral e espiritual de muitos homens e mulheres, conhecidos e desconhecidos por mim. Não cito nomes nem categorias pelo receio de vir a ser impreciso e descriminatório em relação àlguns desses amigos e benfeitores. A todos quanto eu tenha directa ou indirectamente ofendido ou prejudicado, as minhas sinceras desculpas. Nunca foi minha intenção magoar alguém. E aos que, com palavras ou atitudes, me tenham instrumentalizado ou prejudicado na alma ou no corpo, coloco-os nas mãos misericordiosas de Deus. Penso que o terão feito por ignorância, preconceito ou mero egoismo. Aos meus leitores e visitadores deste Blog, o meu muito obrigado pelas vossas visitas de cortesia. Para mim, é sempre um prazer partilhar-vos estes argumentos. Oxalá possa eu encontrar tempo e vontade para continuar a fazer o mesmo quando estiver em Angola.